Haikais e a árvore imóvel de Szymborka — Edição Nº2

Gustavo Dutra
4 min readApr 6, 2022

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Olá, olá!

Na edição anterior, comentei que havia tirado o verão para recarregar as energias. Energias que haviam sido drenadas pelo modo de vida imposto pela pandemia por quase dois anos.

(Aliás, alguns leitores comentaram que a edição caiu no Spam. Se você não recebeu, pode ser que esteja por lá. E, para evitar problemas futuros, adicione nos seus contatos do Gmail ou Hotmail.)

Depois de tomar a segunda dose da vacina, lá pela metade de Outubro, me permiti viajar e visitar alguns amigos que moram longe e também sair com grupos pequenos como forma de “descompressão”. Passei a correr e pedalar mais ao sol e também frequentar praias e tomar alguns chopps em bares à céu aberto.

Desde a semana passada, um vento mais gelado tem vindo do sul. Essa frente fria acabou em quase um mês de chuvas intensas. As paredes, o piso e as roupas ficaram mais úmidas; e alguns objetos de madeira apareceram com mofo.

Olho no celular e vejo que à noite tem feito em torno de 21 graus. Porém, durante o verão, noites que marcavam a mesma temperatura eram muito mais quentes. O Outono chegou. Ainda que as temperaturas estejam elevadas, suas sensações térmicas são mais amenas do que no verão. E essa associação me fez lembrar do haikai, uma forma de poesia japonesa.

Originalmente, os haikais eram escritos seguindo uma das estações: verão, inverno, outono, primavera ou ano novo. Cada obra possui 17 sílabas e três versos, no esquema 5–7–5, ou seja, verso de cinco, seguido de um de sete e finalizando com mais um de cinco. No Brasil, o gênero acabou ganhando várias adaptações, incluindo a restrição ao número de sílabas e a adequação ao tema.

O livro Girassóis maduros, de Léo Prudêncio — cujas percepções da leitura escrevi no meu blog — , é um bom exemplo: fala sobre as quatro estações do ano, mas sem a métrica das sílabas. Há poemas que parecem se repetir, como as estações, numa leitura cíclica.

A Casa Três Editora é entusiasta do gênero. Se você quiser saber mais, recomendo o episódio Gênero literários japoneses do podcast deles.

Disse tudo isso porque, durante a pandemia, pela falta do que fazer, pude observar muito mais ao meu entorno. Observei o mundo quase que como do ponto de vistas das árvores, imóveis, reféns dos eventos que lhe cercam. Como naquele poema “Entre muitos”, da Szymborska

Uma árvore presa à terra
da qual se aproxima o fogo.

“ENTRE MUITOS”, um poema da escritora tida como “O Mozart” da poesia: Wisława SZYMBORSKAwww.contioutra.com

Minha rotina, meus hábitos, minha alimentação. Percebi-me mudando e me adaptando a cada troca de estação. Nos verões, acordo mais cedo e vou dormir mais tarde. Aproveito as manhãs e as tardinhas, que são mais frescas. Saio para pedalar, correr, caminhar na praia. Já no inverno, o frio me traz preguiça, e me permito dormir um pouco mais. Como mais também, porque no calor nem mesmo fome eu sinto em determinados dias.

De calça e camiseta manga curta, o Outono sempre me dá frio nos pés durante a manhã. As noites terminam mais cedo no Inverno, onde passo mais tempo na cozinha, preparando comidas gordurosas e sopas. Antes de dormir algo para esquentar: menos chopp e mais vinho e chás.

E, como tem sido os últimos 3 ou 4 anos, correr para as cobertas quando a noite avança e se apegar a um projeto literário como companhia. Esse ano desejo publicar um livro infantil. O original foi finalista do Prêmio Off-Flip 2020, e acabou de voltar da leitura crítica. Estou animado porque ela tem potencial.

Fui finalista do Prêmio Off Flip 2020, categoria Livro Infantojuvenil — GustavoDutra.com

gustavodutra.com
Publicado em 24/03/2020 por Gustavo Dutra

Outro objetivo é divulgar ainda mais o ao antropoceno brevíssimo aceno ou um pot-pourri pro povo rir. Ele e meu primeiro livro, o Introversos: versos da cabeça de um introvertido, estão disponíveis na minha nova lojinha:

Lojinha do Gustavo Dutraloja.gustavodutra.com
Essa loja contém os livros de poesia publicados pelo poeta Gustavo Dutra. O principal foco das vendas são e-books, porém em breve terá livros físicos.

E na sua vida? Como tem se adaptado às mudanças cíclicas?

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Gustavo Dutra
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Written by Gustavo Dutra

Autor de "Introversos" (2016) e "ao antropoceno brevíssimo aceno ou um pot-pourri pro povo rir" (2020). Curto Poema (newsletter) e "um barco ao mar" (YouTube)

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